sexta-feira, outubro 14, 2005

Quem foi o Padre Himalaya? Uma entrevista com Jacinto Rodrigues



Entrevista concedida ao Portal das Energias Renováveis (PER)(http://www.energiasrenovaveis.com)


Quem era o Padre Himalaya?

Era um cientista, natural de Cendufe, Arcos de Valdevez, nascido em 1868 e que morreu em 1933.
Interessou-se pelas energias renováveis e por processos de organização territorial, nomeadamente sistemas de irrigação, plantação de árvores e sistemas urbanos que antecedem as preocupações actuais em torno do que se chama hoje o ecodesenvolvimento.

O que o fez dedicar-se à obra do Padre Himalaya e à sua divulgação?
A actualidade das suas preocupações em relação às energias renováveis e a necessidade de promover um outro tipo de desenvolvimento, oposto ao crescimento económico baseado em energias fósseis, esbanjamento, poluição e exclusão social.

Quais as principais invenções do Padre Himalaya?
A invenção mais conhecida do padre Himalaya é o pireliófero ou seja a máquina solar que, em 1904 ganhou o grande prémio na exposição de St. Louis nos E.U.A.
Seguiram-se outras invenções que também foram amplamente conhecidas na sua época, tais como as várias patentes relacionadas com explosivos. Outras patentes menos conhecidas referem-se a processos de obtenção de farinhas alimentares e rações para animais à base de crustáceos. Igualmente pouco conhecidas são as patentes relacionadas com motores: o turbo-motor e o motor a gás pobre.
Existem também inovações ou outras invenções que não se traduziram em patentes mas que, eventualmente, constituíram experiências criativas que podem ainda ser motivo de novas pesquisas. Refiro, nomeadamente, um sistema de canhões com um processo complexo de misturas explosivas que deveriam provocar chuva artificial.Lembro ainda que o Padre Himalaya fez investigações sobre o aproveitamento da energia solar através de fotopilhas. Apenas se conhecem breves esquissos.
É de assinalar ainda tratamentos fitoterápicos e propostas de medicina naturopata que o motivaram ao longo de toda a sua vida como terapeuta.

Qual a razão porque os portugueses nunca tinham ouvido falar desta peculiar personagem científica portuguesa?
Razões contextuais que têm a ver com o facto de ser um padre que era simultaneamente pro-republicano e eventualmente maçónico. Por outro lado, dedicou-se à energia solar no momento em que o modelo baseado no petróleo estava a fazer a sua ascensão e determinaria todo o processo industrial e civilizacional do capitalismo.
É também possível que alguns dos seus inventos, que não tiveram aplicação prática imediata e outros que suscitaram enorme controvérsia, tenham contribuído para uma aura de génio incompreendido neste personagem cuja actuação na sociedade foi, muitas vezes, contra-corrente.

Acha que o Padre Himalaia teve o devido reconhecimento científico em Portugal?
O Padre Himalaya, pelo facto de desenvolver a sua problemática num paradigma ecotecnológico nunca foi compreendido por uma sociedade hegemonicamente positivista e mecanicista, baseada numa tecno-ciência à base das energias fósseis. Por outro lado, a sociedade cultural em que viveu, dificilmente estava aberta a um homem que, conservando-se padre católico, tinha contudo anti-corpos no clero por ser aberto ao laicismo e ter um ponto de vista mais liberal do que a igreja do seu tempo.
Também a sociedade republicana e anti-clerical via com desconfiança um cientista que continuava padre.

Como surge o título do seu livro: “A conspiração solar do padre Himalaya”?
Este título é propositadamente ambíguo pois pretende referir um enquadramento repressivo do paradigma das energias fósseis face a uma proposta científica e cultural baseada nas energias renováveis, em especial na energia solar. Por outro lado, este título refere também que a persistência na defesa da energia solar por parte do Padre Himalaya, permitiu consolidar um pensamento contra-corrente que está vir ao de cima nos nossos dias com a emergência do paradigma ecológico que estamos a viver.
A sua invenção mais curiosa e espectacular é o pirelióforo.

Qual é a razão no seu entender para que o Padre Himalaya tenha desenvolvido a sua investigação na direcção da energia Solar?
O Padre Himalaya referiu vários objectivos ao dedicar-se à energia solar: energia gratuita e generalizada a todo o planeta.
Pretendia obter energia térmica para o funcionamento de motores a vapor que fossem capazes de desenvolver energia motora, nomeadamente para obtenção de electricidade.
Pretendia também utilizar as altas temperaturas para aplicação na siderurgia.
Pretendia ainda a utilização de altas temperaturas para a transformação do azoto em nitratos, úteis à agricultura.

O primeiro protótipo desse pirelióforo da sua autoria foi apresentado em Sorède. Porquê?
O primeiro protótipo foi apresentado em Neully-Paris, entre 1899 e 1900.Foi em Julho e Agosto de 1900 que apresentou um segundo protótipo, em Sorède. Era muito maior e o Padre Himalaya quis testá-lo numa zona conhecida pela sua exposição solar- os Pirinéus Orientais. Razões de ordem ainda desconhecida permitiram uma relação entre o Padre Coll e o Comandante Bazeries que favoreceram a permanência nesse local.

Passados 100 anos da sua grande invenção, o “Pireilióforo”, quais os avanços científicos nesta área?
Deram-se passos seguramente muito importantes no domínio da energia solar. Basta observar o forno solar de Odeillo, o projecto Themis e outros, para se revelarem os avanços técnicos desta invenção do Padre Himalaya, que os antecedeu.

O trabalho do Padre Himalaya é de tão elevado alcance que merecia mais do que um livro. Será que Portugal pode aprender alguma coisa com a dedicação deste cientista?
Penso que, essencialmente, para além da contribuição eco-tecnológica do Padre Himalaya é importante assumir hoje alguns dos aspectos mais importantes do seu discurso teórico, em relação, nomeadamente, à educação e ao desenvolvimento ecologicamente sustentado.
Assim, o Padre Himalaya desenvolveu ideias concretas sobre processos de formação pedagógica e profissional que deveriam levar à criação de quintas escolares, possibilitando uma relação constante entre os alunos e as actividades com a natureza.
O associativismo e o cooperativismo, à escala regional, nacional e internacional deveriam levar à criação duma sociedade sem exclusão social.
Uma dietética mais centrada sobre a alimentação vegetariana e uma medicina profiláctica centrada na naturopatia, constituíam preocupações essenciais que o Padre Himalaya defendeu e praticou.

Professor Doutor Jacinto Rodrigues (Professor Catedrático da Universidade do Porto)

1 comentário:

Anónimo disse...

ola, nos somos as "ric" e estamos a adorar trabalhar sobre o padre himalaya, quer dizer, mais ou menos...lol

adeus

beijinhos